“Quem deseja percorrer um caminho longo, tem que aprender que a primeira lição é superar as decepções do início.”
(Paulo Coelho)
As luzes se apagam e a certeza de que será mais uma noite de insônia, chega. Ao deitar em meu leito, lembranças longínquas abordam-me, roubando meu sono. Pensamentos ternos tomam contam de minha mente, obrigando-me a refletir sobre todas as afirmações ditas. Cada palavra oca, ilusiva, proferidas na ânsia de acertar, entalha-se no interior obscuro de minha alma. A chuva bate na janela, com sua melodia elegantemente doce. E amanhã será um novo dia, de uma decadente solidão.
“Eu posso não saber nada de amor. Eu posso não saber como trazer seu amado em três dias. Eu até posso não ter conhecimento de algum assunto que você queira discutir comigo.
Eu posso não saber nada de santos, de preces, de milagres. Eu posso não ser santa (e quem disse que um dia eu quis ser?)
Mas se tem uma coisa que eu sei, é quem me faz bem. Eu sei quem me acrescenta, quem me torna uma pessoa melhor a cada sorriso, a cada carinho partilhado, a cada palavra. Esses, ah! Eu sinto de longe.
Deve ser porque a nossa essência se comunica. Sem que palavra alguma precise ser dita.”
Pedro Bial
Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta idéia:morrer. A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam para nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um clichê. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu! Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por 1 rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero.E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça!